Notícias | 8 agosto, 2025
Tarifaço: países devem exercer multilateralismo, mas diálogo é fundamental, dizem especialistas

Para eles, tensão institucional no Brasil e cenário internacional instável dificultam avanços nas negociações com os EUA
As tarifas impostas pelo governo de Donald Trump a produtos brasileiros passaram a valer nessa quarta-feira (6), atingindo setores estratégicos da economia, como o de café, frutas e carnes. Mesmo assim, o governo federal e empresas tentam negociar o fim da cobrança ou ao menos o afrouxamento da medida.
Segundo especialistas, essa é a estratégia mais recomendada, especialmente em um momento de instabilidade global. O advogado Pedro Calmon Filho, especialista em Direito Marítimo e sócio do PCFA & Associados, afirma que o diálogo direto entre lideranças é a forma mais eficaz de buscar uma solução.
“O Brasil acertou ao instituir seu comitê negociador e colocar o vice-presidente Geraldo Alckmin à frente. Trouxe autoridades com o conhecimento técnico e o tato diplomático necessários para lidar com o tema. Apesar disso, é difícil imaginar os Estados Unidos cedendo, principalmente diante do viés político e ideológico que permeia a questão do tarifaço”, avaliou.
Esse ponto também é mencionado por Richard Ionescu, CEO do Grupo IOX e especialista em crédito. Ele destaca que a tensão institucional no Brasil e o cenário internacional instável dificultam avanços nas negociações com os EUA. E reforça que articulações multilaterais devem ser consideradas.
Guto Ferreira, sócio da Brain Cenários Políticos e Econômicos, destacou que o perfil do presidente americano, com forte experiência em negociações, deve ser levado em consideração.
“Nem Lula nem a maioria dos líderes políticos brasileiros têm um perfil semelhante ao de Trump nesse aspecto. O presidente americano está claramente se aproveitando da situação criada por Eduardo Bolsonaro para extrair mais valor dessa negociação. Estamos presenciando a redefinição do futuro das relações econômicas globais. Se Trump conseguir dobrar o mundo, o protecionismo poderá se tornar o novo padrão. Se o multilateralismo prevalecer, os Estados Unidos tendem a ser substituídos pela China como modelo econômico global”, analisa.
Gustavo Assis, CEO da Asset Bank — instituição financeira de crédito e investimentos personalizados —, defende que as negociações ocorram entre lideranças com capacidade de tomada de decisão rápida.
“Além disso, articular-se em blocos econômicos, buscar apoio em organismos internacionais e construir alianças comerciais com outros mercados estratégicos pode gerar maior poder de barganha e acelerar soluções concretas”, explica.
Assis também ressalta a necessidade de múltiplas frentes de atuação diante do avanço do protecionismo norte-americano.
“O setor produtivo não pode ficar refém apenas da diplomacia tradicional. É preciso combinar estratégias para proteger nossa competitividade e garantir acesso a financiamento de forma estruturada.”
Cenário interno
Internamente, especialistas apontam a necessidade de crédito e programas de apoio às empresas afetadas como medidas urgentes. Para Richard Ionescu, o crédito bancário segue escasso, especialmente diante dos juros elevados e da maior seletividade dos bancos.
“Isso cria um desafio duplo para empresas que precisam de fôlego financeiro para enfrentar o novo cenário. Nesse contexto, ganham relevância os fundos estruturados, que oferecem soluções de crédito mais adequadas à realidade de empresas médias e grandes”, afirma.
Gustavo Assis complementa que, além da taxa de juros elevada, o câmbio volátil e a retração no comércio internacional comprometem a liquidez justamente no momento em que o governo estuda planos emergenciais para redirecionar produtos a novos mercados.
“Nesse cenário, os Fundos de Direitos Creditórios (FIDCs) ganham destaque como uma alternativa de financiamento mais ágil e personalizada. A dificuldade de acesso ao crédito pode prejudicar o setor produtivo e exportador. Por isso, os FIDCs seguem ganhando espaço, ao oferecerem estrutura sob medida, garantias reais e maior previsibilidade nos fluxos financeiros”, conclui Assis.
Fonte: Portal R7