Notícias | 3 outubro, 2025
Asgaard Bourbon vê offshore aquecido e planeja investimentos com cautela

Após joint venture entre empresas, frota opera com 4 embarcações de apoio para Petrobras, cujos contratos têm duração de 4 anos
A Asgaard Bourbon tem quatro embarcações de apoio marítimo de sua frota em operação para a Petrobras, sendo um OSRV (combate ao derramamento de óleo) e outros três AHTS (manuseio de âncoras) 12.000, que prestam serviços para a petroleira, ambas pelo período contratual de quatro anos. A joint venture das empresas Asgaard e Bourbon percebe um aquecimento no mercado offshore a partir de 2022, com uma redução mais acentuada em termos de disponibilidade de embarcações brasileiras, além da diminuição gradativa de embarcações ociosas ou operando spot.
“Com a junção, a cultura da companhia foi repensada e mudou um pouco. Em 2022, com as coisas mais no eixo, a Asgaard Bourbon começou a operar no formato que tem hoje”, disse o CEO da Asgaard Bourbon, Fredric Fuerth, à Portos e Navios. Ele explicou que, como o DNA do grupo MLog é financeiro, e não puramente o mercado de apoio marítimo, existem critérios cautelosos de avaliação que levam em conta fatores como a disponibilidade de ativo, contratos e estrutura financeira.
Ele avalia que, desde a queda brusca do valor das diárias agravada por volta de 2015 e 2016, existem em parte das empresas do setor um represamento de custos gerados por ausência de receitas. Segundo o CEO da Asgaard Bourbon, pelos gráficos de disponibilidade de frota, é possível constatar que essa queda foi muito brusca e, de lá para cá, o mercado vem se recuperando aos poucos.
“Hoje estamos muito mais sólidos e cientes de que tipo de risco, de barco e serviço queremos entrar e quais passos queremos dar no mercado de apoio marítimo, aumentando presença, receita e o resultado da companhia, sem nenhum tipo de risco para além do que está embutido no nosso DNA”, acrescentou.
Na fusão, a MLog, acionista principal da Asgaard, comprou embarcações da Bourbon. O CEO mencionou que o OSRV Asgaard Sophia (foto) é uma embarcação que performa bem e que, antes da fusão, já havia se destacado por três anos no Peotram — Programa de Excelência Operacional em Transporte Aéreo e Marítimo da Petrobras.
Fuerth frisou que tomar risco em relação a novos investimentos em embarcações precisa fazer sentido econômica e financeiramente dentro das métricas do grupo MLog, não dependendo somente de preços atrativos de ativos frente aos preços históricos. Segundo o executivo, a MLog é um private equity disposta a fazer investimentos em embarcações, contando com a Asgaard Bourbon como veículo natural para operar esses ativos.
“Esse esforço conjunto da MLog com Asgaard Bourbon foi testando premissas dos caminhos possíveis que como grupo teríamos condição de tomar. (…) Entendemos que o modelo que mais fazia sentido para a companhia talvez não fosse de aquisição de ativos naquele momento. Precisávamos amadurecer um pouco mais entendendo o crescimento do mercado”, disse Fuerth.
Ele observa que, de maneira geral, existe demanda para esse mercado, o que pode ser visualizado com a menor disponibilidade de embarcações brasileiras e com embarcações estrangeiras vindo para operar em águas jurisdicionais brasileiras (AJB) com bandeira REB (Registro Especial Brasileiro) para evitar bloqueio. Essa modalidade de afretamento, porém, está limitada às regras de uso de tonelagem das empresas.
Fuerth destacou que as quatro embarcações da frota da Asgaard Bourbon foram construídas no Brasil e que a empresa ainda possui tonelagem para trazer embarcação estrangeira via REB. “Esse é um caminho que temos visto de trazer embarcações estrangeiras, ainda assim dando prioridade a embarcações de bandeira brasileira. (…) Não podemos ‘demonizar’ a bandeira estrangeira. Os órgãos reguladores têm que fazer um trabalho bem feito de regulamentação do mercado na verificação dos bloqueios”, analisa Fuerth.
A Asgaard Bourbon considera positiva a abertura de oportunidades para construções de novas embarcações de apoio marítimo no Brasil. Fuerth chama a atenção, entretanto, para a redução da quantidade de estaleiros disponíveis proporcionalmente ao que o mercado ofertava há 10 anos. “Mesmo que esses estaleiros [verticalizados] possam construir para terceiros, é difícil equiparar com os custos para frota própria. E a capacidade de construção é limitada. Quantos projetos cada estaleiro consegue construir simultaneamente e com qual velocidade de entrega?”, indagou.
Para o executivo, o problema da capacidade reduzida da construção naval no Brasil passa por questões como falta de espaço físico, a necessidade de qualificação e atualização da mão de obra, além das dificuldades de acesso a linhas de crédito. “Temos um gargalo para que a bandeira nacional continue tendo aumento relevante se queremos proteger a indústria nacional com conteúdo local e produção nacional, que é a ausência estruturada de estaleiros para poder atender à demanda do apoio marítimo”, afirmou.
A Asgaard Bourbon tem três expectativas principais de oportunidades no apoio offshore a partir do desenvolvimento de novas fronteiras: eólicas offshore, Margem Equatorial e mineração submarina, sendo as duas últimas oportunidades ainda com pontos a serem equacionados. Um deles é a janela de maturação dos projetos próximos à Foz do Rio Amazonas, considerando janelas entre quatro e seis anos, desde o lançamento até a extração do primeiro óleo.
Em relação à mineração offshore, o entendimento é que o assunto ainda é pouco discutido no Brasil. “Existe uma dúvida sobre sustentabilidade e impacto ambiental desse tipo de atividade, mas no Brasil está muito incipiente para termos ideia se é uma atividade que vai se desenvolver em larga escala”, analisou Fuerth.
Fonte: Portos e Navios